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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Maçonaria: Das origens ao Aracati


Maçonaria: Das origens ao Aracati


Introdução

A construção desse texto exigiu muita leitura para montar esse quadro de fatos históricos ligados à maçonaria a partir de mosaicos que nas mãos do pedreiro foi dando forma ao conteúdo. Não é todo pedreiro que assenta mosaico, exige muita perícia e habilidade para no final se chegar ao resultado desejado. No texto não possui nenhuma surpresa, fui escrevendo e copiando pedaços que no final se transformou nessa obra literária (?) que não só pertence a mim mais a vários pedreiros que ousaram escrever a história da maçonaria. Muitos pedaços foram copiados e colocados nessa parede, outros lapidados, e tantos outros se quebraram e se perderam no tempo. Espero que outros interessados ponham a mão na massa e termine essa obra inacabada, principalmente no que se refere aos fatos do Aracati, que precisa muito de obreiros que tenham a ousadia de escrever essa história que me propus, e tantas outras do Aracati. O Aracati é um canteiro de obras esperando que os jovens pensadores se empolguem e construam a sua história. Um jovem sem história é um jovem sem memória, presa fácil nas mãos da classe dominante e oportunista de toda índole.



A MAÇONARIA NA EUROPA

Lendo o livro “A maçonaria em Aracati” do empresário e historiador Antero Pereira Filho me atrevi de aprofundar algumas idéias desse livro que no meu ponto de vista é uma semente que precisa ser cuidada para crescer e trazer frutos para a história do Aracati. Nesse artigo usarei o método dedutivo, partirei das origens da maçonaria na Europa, aportando no Brasil, pisando no Ceará e tentando viver no Aracati. Esse é o nosso propósito nessa viagem histórica.
A maçonaria tem suas origens nas antigas corporações de mestres-pedreiros construtores de igrejas e catedrais, corporações formadas na idade média. A palavra maçon vem do vocabulário francês, significa pedreiro.
Na idade média qualquer ofício necessitava que o interessado em exercer alguma profissão passasse por etapas de aprendizagem, até chegar ao posto desejado, no caso para ser pedreiro o neófito necessitava labutar até pôr a mão na massa e fazer parte da corporação. Os pedreiros eram homens privilegiados, pois detinham conhecimentos os mais variados, pois para erguer uma catedral ou um palácio necessitava de habilidades sólidas. Nas construções das catedrais começaram a se organizar através de sociedades secretas, nesse momento podemos chamar os maçons de operativos, pois suas preocupações eram matérias, trabalhadores especializados. Nessas sociedades guardavam seus segredos de construção a sete chaves para não cair nas mãos de outros que não participavam das corporações de ofício.
Na idade média os alquimistas eram perseguidos pela igreja, na atual conjuntura a igreja era a grande senhora feudal, detinha tanto o poder material como o espiritual. Os alquimistas muitos deles eram pensadores e fazia críticas ao obscurantismo da igreja católica, por isso eram perseguidos e foram buscar refúgio nessa sociedade secreta, pois a mesma gozava de privilégios e por conta disso estavam livres da inquisição, mas nem todos eram aceitos na irmandade.
No século XVI a Rosa Cruzes veio se juntar aos maçons. Aos poucos os rituais das Rosa Cruzes foram introduzidos na maçonaria, no caso o esoterismo, teosofia, alquimia e outras ciências ocultas que passaram a predominar, e alguns símbolos foram absorvidos pelos maçons.
De todos os movimentos políticos e sociais na Europa teve a maçonaria presença marcante, a Revolução Francesa e a Independência norte-americana. O primeiro presidente norte-americano George Washington foi maçom e os presidentes que o sucederam.
As primeiras corporações Maçônicas: As grandes lojas da Inglaterra (1717), Irlanda (1726), França (1728), Escócia (1736) foram as principais na Europa.


A MAÇONARIA NO BRASIL

Inconfidência Mineira:
 
O primeiro momento histórico brasileiro em que se tem notícia da participação da Maçonaria foi o da Inconfidência Mineira, ocorrida em Vila Rica, Minas Gerais, em 1789. Desejando a separação da capitania das Minas Gerais de Portugal – os mineiros não toleravam mais os mandos e desmandos do reino português – e utilizando o mesmo lema das Lojas Maçônicas francesas no planejamento da Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e Fraternidade), a Inconfidência Mineira foi precursora da Independência e da Proclamação da República do Brasil.
Apesar do fracasso do movimento, a morte de Tiradentes, em 21 de abril de 1792, não foi em vão, pois os ideais de emancipação e independência começaram a ganhar força na sociedade colonial, principalmente entre os maçons, que não toleravam mais a corrupção que assolava o Brasil.
Durante esse período, Lojas Maçônicas foram introduzidas no Brasil através dos ideais iluministas adquiridos pelos estudantes brasileiros que se formavam na Europa, principalmente em Portugal, França e Inglaterra, onde as idéias de Montesquieu, Voltaire e Rousseau davam as novas diretrizes políticas e sociais ao mundo.
Apesar das perseguições da Coroa portuguesa, as Lojas Maçônicas foram surgindo no Brasil, principalmente nos estados de Pernambuco, Rio de Janeiro e Bahia, sendo que a maior parte mantinha ligações estreitas com o “Grande Oriente” francês, que tinha profundo interesse na emancipação política da colônia portuguesa, na independência do Brasil. A um observador atento percebe um dos símbolos da maçonaria na bandeira das minas Gerais, o triângulo.

Conjuração Baiana:

Os revoltosos pregavam a libertação dos escravos, a instauração de um governo igualitário (onde as pessoas fossem vistas de acordo com a capacidade e merecimento individuais), além da instalação de uma República na Bahia e da liberdade de comércio e o aumento dos salários dos soldados. Tais idéias eram divulgadas sobretudo pelos escritos do soldado Luiz Gonzaga das Virgens e panfletos de Cipriano Barata, médico e filósofo.

Finalmente, no dia 8 de Novembro de 1799, procedeu-se à execução dos condenados à pena capital, por enforcamento, na seguinte ordem:
  1. Soldado - Lucas Dantas do Amorim Torres;
  2. Aprendiz de alfaiate - Manuel Faustino dos Santos Lira;
  3. Soldado - Luís Gonzaga das Virgens; e
  4. Mestre alfaiate - João de Deus Nascimento.
Os demais envolvidos foram condenados à pena de degredo, agravada com a determinação de ser sofrido na costa Ocidental da África, fora dos domínios de Portugal, o que equivalia à morte. Foram eles:
  • José de Freitas Sacota e Romão Pinheiro, deixados em Acará, sob domínio holandês;
  • Manuel de Santana em Aquito, então domínio dinamarquês;
  • Inácio da Silva Pimentel, no Castelo da Mina, sob domínio holandês;
  • Luís de França Pires em Cabo Corso;
  • José Félix da Costa em Fortaleza do Moura;
  • José do Sacramento em Comenda, sob domínio inglês.
Cada um recebeu publicamente 500 chibatadas no Pelourinho, à época no Terreiro de Jesus, e foram depois conduzidos para assistir a execução dos sentenciados à pena capital. A estes degredados acrescentavam-se os nomes de:
  • Pedro Leão de Aguilar Pantoja degredado no Presídio de Benguela por 10 anos;
  • O escravo Cosme Damião Pereira Bastos, degredado por cinco anos em Angola;
  • Os escravos Inácio Pires e Manuel José de Vera Cruz, condenados a 500 chibatadas, ficando seus senhores obrigados a vendê-los para fora da Capitania da Bahia;
  • José Raimundo Barata de Almeida, degredado para a ilha de Fernando de Noronha;
  • Os tenentes Hermógenes Francisco de Aguilar Pantoja e José Gomes de Oliveira Borges, permaneceram detidos por seis meses em Salvador;
  • Cipriano Barata, detido a 19 de Setembro de 1798, solto em Janeiro de 1800.

Revolução Pernambucana:
Mais uma vez os ideais republicanos tomam conta do coração de maçons brasileiros. A revolução iniciou-se com um incidente em um quartel da artilharia, quando o capitão José de Barros Lima mata um brigadeiro português e liberta os presos políticos. No dia seguinte, 07 de março, constituem-se um governo provisório, composto do padre João Ribeiro de Melo Montenegro, capitães Domingos Teotônio, Jorge Martins Pessoa, João Luis de Mendonça, coronel Corrêa de Araújo e Domingos José Martins e o padre Miguelinho, todos os maçons.
Medidas liberais foram decretadas, como a adoção de uma bandeira republicana e a elaboração de um projeto de Constituição, na qual se incluía a tolerância religiosa e a emancipação da escravidão.
Mais uma vez a rebelião foi reprimida e seus conjurados executados, sobrepondo-se novamente o regime monárquico.
Um outro nome de proa nesse movimento, além dos maçons mencionados, foi o de Antonio Carlos de Andrada e Silva, irmão de José Bonifácio de Andrada e Silva, levado preso para a Bahia, longe do palco da insurreição.

A Independência do Brasil(1822):

"A Independência do Brasil foi realizada à sombra da acácia, cujas raízes prepararam o terreno para isso..." (História Secreta da Maçonaria - Cristiano Barroso).
A independência do Brasil começou a ser desenhada com a volta de Dom João VI a Portugal, deixando seu filho, Pedro de Alcântara, como príncipe regente.
O príncipe Dom Pedro, jovem e voluntarioso que aqui permanece, foi envolvido por homens de bem, maçons que constituíam a elite pensante e econômica da época.
Em 09 de janeiro 1822, o maçom José Clemente Pereira pronuncia um eloqüente discurso pedindo ao príncipe que não volte a Portugal. Dom Pedro concorda e fica, tornando-se essa data conhecida como o "Dia do Fico”.
No dia 13 de maio de 1822, os maçons fluminenses, sob a liderança de Joaquim Gonçalves Ledo, por proposta do brigadeiro Domingos Aires Barreto, outorgam ao príncipe o título de Defensor Perpétuo do Brasil, oferecido pela Maçonaria e pelo Senado. Ainda em maio, no dia 22, aconselhado pelo maçom José Bonifácio de Andrada e Silva, Dom Pedro assina o "Decreto do Cumpra-se", no qual nenhum decreto português valeria no Brasil sem o seu “cumpra-se”.
Em 02 de junho de 1822, Dom Pedro ouve dos maçons Joaquim Gonçalves Ledo e Januário Barbosa, o clamor por uma Constituição brasileira. Dom Pedro expõe a seu pai, Dom João VI, já em Portugal, que o Brasil deveria ter sua Corte, convocando assim a Assembléia Constituinte, passo de suma importância para a Independência do Brasil.
A Loja Maçônica Comércio e Artes, em sessão memorável de 17 de junho de 1822, resolve criar mais duas Lojas pelo desdobramento de seu quadro de obreiros, surgindo as Lojas "Esperança de Niterói" e "União e Tranqüilidade", constituindo-se três lojas e possibilitando a criação do Grande Oriente Brasileiro, o qual depois viria a ser denominado Grande Oriente do Brasil. José Bonifácio é eleito o primeiro Grão Mestre, tendo Joaquim Gonçalves Ledo como Primeiro Vigilante e o padre Januário Cintra Barbosa como grande orador. Dom Pedro é iniciado na Loja Comércio e Artes, em 02 de agosto de 1822, tendo como padrinho José Bonifácio. Apenas três dias depois, em 05 de agosto, é aprovada a exaltação de Dom Pedro ao grau de mestre, em uma manobra política de Ledo, que ocupava a presidência dos trabalhos, possibilitando-se que, em 04 de outubro do mesmo ano, o imperador fosse eleito e empossado no cargo de grão mestre do Grande Oriente do Brasil.
Em 07 de setembro, assim reza a mais conhecida história, voltando de Santos para São Paulo, junto a uma pequena comitiva, encontrava-se Dom Pedro nas colinas do Ipiranga, às margens de um riacho, quando recebeu o correio da Corte, que lhe trazia notícias urgentes de José Bonifácio. Após tomar conhecimento do conteúdo, declarou: "As cortes me perseguem, chamam-me com desprezo de rapazinho e de brasileiro. Verão agora quanto vale o rapazinho. De hoje em diante estão quebradas as nossas relações. Nada mais quero do Governo português e proclamo o Brasil para sempre separado de Portugal”.
No dia 04 de outubro de 1822, dia em que Dom Pedro tomou posse do cargo de Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil, Joaquim Gonçalves Ledo redigiu uma nota patriótica ao povo brasileiro: "Cidadãos! A liberdade identificou-se; a natureza nos grita independência, a razão nos insinua; a Justiça o determina; a glória o pede; resistir-lhe é crime, hesitar é dos covardes, somos homens, somos brasileiros. Independência ou morte!”

A Guerra dos Farrapos (1835):

Em um período regencial, marcado por agitações internas, ocorreu em 1835 a Revolução Farroupilha, ou Guerra dos Farrapos, na Província do Rio Grande do Sul. Largamente influenciada pela Maçonaria, nela se destacou o nome do General Bento Gonçalves da Silva, chefe militar do movimento e uma das figuras mais representativas da província. Também de grande influência e participação nesse levante, o nome do revolucionário maçom Giuseppe Garibaldi.

A Abolição da Escravatura (1888):

A Maçonaria prega a abolição da escravatura negra, criando Lojas e difundindo os ideais abolicionistas, mas encontrando, todavia, dificuldades junto aos senhores de escravos.
Em 1881, a Maçonaria faz uma grande conquista: a Lei do Ventre Livre, na qual os nascidos no Brasil ficavam livres. Em 25 de março de 1884, são redimidos os negros sexagenários. Nesse mesmo dia, no Ceará, o Governador da Província, o Maçom Sátiro Dias, foi o primeiro a emancipar seus escravos.
Nesse processo abolicionista, criado por Maçons, destacaram-se, dentre outros, grandes figuras, como Rui Barbosa, Rodrigues Alves, Joaquim Nabuco, Castro Alves, Afonso Pena, Francisco Glicério, Bernardino de Campos (Patrono da Loja que leva seu nome e à qual pertencem os autores deste ensaio).
No mesmo ano de 1884, aos 17 dias de maio, o jornal gaúcho "A Federação" publicou que os Irmãos da Loja Maçônica Luz e Ordem estavam promovendo a libertação dos seus escravos.
Finalmente, a 08 de maio de 1888, o ministro da agricultura, o Maçom Rodrigo Silva, apresenta o projeto de abolição, sancionado pela Princesa Isabel, filha do Imperador Dom Pedro II, em 13 de treze de maio do mesmo ano, declarando-se assim extinta a escravidão negra no Brasil.

A Proclamação da República (1889):

Movimentos anteriores, como a Inconfidência Mineira e a Revolução Pernambucana, já visavam o regime republicano para o Brasil.
Em 1870 foi criado um clube republicano e três anos mais tarde, em São Paulo, criado o Partido Republicano que, embora não empolgasse muito a sociedade, elegeu três deputados para a Assembléia, em 1875.
Posteriormente, os republicanos convencem Deodoro da Fonseca a chefiar a revolução, enquanto a imprensa ataca fervorosamente a Monarquia.
Na tarde de 14 de novembro de 1889, é propagada a falsa notícia de que Deodoro da Fonseca, Benjamin Constant e outros oficiais seriam presos. Diante disso, o movimento se acelera e o governo tenta se defender com as tropas julgadas fiéis.
Na madrugada do dia 15, no Rio de Janeiro, Deodoro e Benjamin, frente às tropas, reúnem-se e tomam posição ante o Quartel General.
Floriano Peixoto não cumpre as ordens do Visconde de Ouro Preto, para atacar os republicanos. Os portões foram abertos e o ministério de Ouro Preto é deposto.
Foi uma atitude decisiva, afirmando Deodoro da Fonseca que "outro ministério seria logo organizado e de acordo com as indicações que ele próprio levaria ao Imperador”.
Estas indicações foram levadas ao Imperador, às três horas da tarde do 15 de novembro, no Paço da cidade. No mesmo dia, o Imperador deposto resolveu que voltaria para a Europa com toda sua família, transformando-se o antigo Império Brasileiro em República dos Estados Unidos do Brasil.
Como é de fácil percepção no breve resumo histórico apresentado, a Maçonaria influiu politicamente nos mais importantes movimentos revolucionários e libertários brasileiros. É claro que contribuíram para isso, toda uma ideologia e um clima revolucionários da época, não apenas no Brasil, nos quais ela estava bastante envolvida, principalmente por causa de seus ideais de liberdade. Mas foi de fundamental importância, entretanto, o papel catalisador da Maçonaria na congregação das idéias, dando-se a oportunidade para a reunião, o desenvolvimento e a aplicação das ideologias nos movimentos. Uma concepção, infelizmente, bastante esquecida atualmente, realidade que leva a repensar os objetivos da Maçonaria, no que tange ao seu papel, e de seus membros, como agentes participantes da Política.



A MAÇONARIA NO CEARÁ

As primeiras manifestações maçônicas no Estado do Ceará culminaram com a Confederação do Equador e o sacrifício de alguns maçons, inclusive Padre Mororó. A primeira Loja Maçônica foi instalada foi a Fraternidade Cearense 136, em 1856.
A presença maçônica nos movimentos sociais no Ceará, ganha destaque através de sua inserção na organização dos trabalhadores através da Sociedade Artística Beneficente (1902) e Centro Artístico Cearense (1904), seguindo-se diversas outras, inclusive no interior do estado. Essa atuação correspondia ao “novo apostolado” da Maçonaria brasileira, a “questão social”, nos primeiros anos do século XX, em continuidade à sua participação na campanha abolicionista. A postura liberal da Maçonaria teria sido vitoriosa sobre as primeiras articulações dos anarquistas, no Centro Artístico, tornado-se hegemônica na organização dos trabalhadores cearenses até o início da década de 1920, quando se fortalece o movimento dos Círculos Operários, sob orientação da Igreja Católica, iniciado em 1915. A Maçonaria brasileira esteve unificada sob a denominação de Grande Oriente do Brasil (GOB) desde 1883. Atuavam no Ceará as lojas maçônicas Fraternidade Cearense fundada em 1859, Igualdade (1882), Liberdade IV (1901), Porangaba (1905), Amor e Caridade III (1905), dentre outras. Em 1927 ocorre a do Grande Oriente do Brasil, passando a organizarem-se em cada estado da federação as Grandes Lojas Simbólicas, vinculadas à Confederação da Maçonaria Simbólica, gozando de autonomia e soberania dentro e fora do país. A Grande Loja do Ceará é fundada em 19 de março de 1928, resultante da coligação de três Lojas: Deus e Camocim (1921), Porangaba (1905) e Fortaleza (1928). Essa reorganização da Maçonaria brasileira daria nova dinâmica, em termos estaduais, para a atuação dos pedreiros-livres. Seu primeiro Grão-Mestre foi Álvaro Weyne da Grande Loja Maçônica do Ceará entre 1928 e 1932.
Nos ataques à Maçonaria, que em alguns períodos eram diários, o jornal clerical procura desqualificá-la, dentre outras coisas como sociedade criminosa. Tome-se como exemplo o ano de 1925, em O Nordeste traz reportagens do tipo: “Perseguição religiosa na França”, onde se divulgando nota do “cardeal Dubois”, responsabilizando a Maçonaria pelas medidas do governo contra a Igreja Católica (9 de fevereiro); “A Câmara italiana aprova o projeto contra a maçonaria”. Naquela ocasião Mussolini “Declarou que a maçonaria é o maior inimigo do fascismo [...] O projeto proíbe os funcionários do governo pertençam às forças maçônicas. [...] o chefe do governo aludiu a numerosas mortes e atentados por eles praticados” (27 de maio).
O jornal O Ceará, do jornalista, professor e maçom Julio de Matos Ibiapina se colocou na defesa irrestrita da Maçonaria, ante os ataques do diário católico: “Os leitores do órgão pio desta capital na estarão esquecidos da campanha quase diária que ali se faz contra a Maçonaria. Os conceitos emitidos contra essa instituição poderão levar ao povo ignorante a impressão de que a Maçonaria é criação diabólica, digna de ser condenada, não somente pelos católicos mas por todos que se interessam pelo progresso social, tão negras são as cores que se pintam os intuitos dos maçons”. Nesse embate, a própria imprensa que já era arma, transformava-se em objeto de disputa. Enquanto experimentava a excomunhão proferida pelo arcebispo D. Manoel, a folha de Matos Ibiapina dava voz às “Queixas do Povo”: O Clero aponta a maçonaria como seita perigosa, e nós perguntamos se há maior perigo para o mundo que se lançar mão às coisas alheias em nome de Deus, como fazem alguns padres da santa madre Igreja Católica Apostólica romana, obrigando as pobres viúvas a fazerem assinaturas do ‘O Nordeste’, dizendo-lhes que se não fizerem tais não terão a salvação eterna e outra ameaça de igual quilate.
Registra-se a presença maçônica no interior do estado, desde o início do século XX. Em Baturité funcionou a Loja Deus e Baturité, entre 1905 e 1911. Em Senador Pompeu, a Loja Deus, Pátria e Liberdade, entre 1905 e 1910. Em Quixadá, há indícios da presença do “espírito maçônico”, na mesma época. A fundação da primeira loja maçônica em Quixadá ocorreria em 1º de fevereiro de 1918, denominada Loja Ordem e Justiça. Houve, também, o registro de outra, a Loja Caridade e Justiça, entre os anos de 1920 e 1921. A Loja Ordem e Justiça tiveram atuação considerável na propaganda maçônica e no encaminhamento de “profanos” - de Quixadá, como também de Quixeramobim, Iguatu, Baturité, dentre outras cidades da região - para iniciação em Fortaleza, na Loja Igualdade. Seguindo a política maçônica brasileira de intervenção na “questão social”, os membros da Loja Ordem e Justiça fundam uma escola noturna, em 04 de dezembro de 1919, denominada Escola Padre Mororó. Além desta, existiram, na década de 1920, mais duas escolas fundadas e mantidas pela Maçonaria, ambas em Fortaleza: Escola José Bonifácio e Escola Cel. João Brígido.
Enquanto a Igreja voltou-se para a educação das elites, a estratégia da Maçonaria foi ampliar o número de escolas leigas voltadas para os setores populares. Tal estratégia revelava, de certa maneira, um interesse da Maçonaria em ampliar o recrutamento de seus membros nos setores populares e, conseqüentemente, discutir e se posicionar com maior clareza sobre os problemas da chamada ‘questão social’. Em 1892, no seu discurso de posse como grão Mestre da Ordem Maçônica, Antonio Joaquim de Macedo soares, ministro do supremo tribunal de Justiça, propunha que a ‘questão social’ se transformasse no eixo central de atuação da Maçonaria brasileira”. BARATA, Alexandre M. Luzes e sombras: A ação da Maçonaria brasileira (1870-1910). Campinas (SP): Editora da Unicamp – Centro de Memória - Unicamp, 1999. p.142.


A MAÇONARIA NO ARACATI
Depois dessa longa jornada em busca fatos históricos ligados à maçonaria percebi o quanto a historiografia brasileira carece de trabalhos científicos referentes à maçonaria. De maçons existe uma infinidade, porém tendenciosos, não fazem uma crítica a maçonaria, nem muito menos usam técnicas científica para escreverem, muita paixão e pouco rigor científico. Na conversa informal que tive com o autor do livro, “A maçonaria em Aracati”, de autoria de Antero Pereira Filho, fui alertado que fontes primárias referentes à maçonaria de Aracati são escassas, por isso o livro carece de um aprofundamento no que tange ao tema proposto. Vou discorrer sobre o assunto tendo como referencial o livro do Antero Pereira Filho e os documentos no qual o autor usou para falar dessa temática.
Afirmar que a maçonaria no Ceará teve origem em Aracati não consta em documentos históricos. Essa tese é defendida pela historiadora Berenice Abreu: “É bem possível que a maçonaria tenha aparecido primeiramente em Aracati, uma das poucas localidades da Capitânia do Ceará até meados do século XIX em que se podiam respirar ares urbanos” (ABREU, 2009, pág. 58). A Confederação do Equador que se abrigou no Aracati, e tinha membros da maçonaria não significa que Aracati tivesse maçons. Quando os confederados estiveram em Aracati, a elite local fugiu da cidade e a permanência do quartel – general do presidente Tristão Gonçalves foram de poucos dias em Aracati.
A informação documental se refere à fundação da maçonaria no ano de 1922, se chamava Loja Maçônica Fraternidade de Aracati.
No ano de 1924 o casal Clóvis Malveira Nunes e esposa Elza Meireles malveira doou a maçonaria de Aracati um prédio na Rua Conselheiro Liberato Barroso nº. 132. A partir desse momento as mentes retrogradas da cidade perceberam que a implantação da maçonaria no Aracati era pra valer. Imagine uma cidade tradicional como Aracati, alimentada intelectualmente por crenças religiosas e de repente ter que conviver com maçons na mesma cidade?
O confronto começou a partir de uma poesia do padre Correia de Almeida com o título “A Hora Final” em setembro de 1927; criticava os católicos que porventura viessem participar da maçonaria.
Em novembro de 1927 José Barbosa Lima publica outro boletim contra a maçonaria com o título: “Ao Público Aracatiense”. O boletim defendia a reputação do fervoroso católico Antonio Felismino Filho, proprietário do jornal católico “O Rosário”.
A concretização da loja maçônica no Aracati se realiza no domingo, dia 27 de janeiro de 1929, publicado no jornal “A Região”, do dia 03 de fevereiro de 1929. Para o evento veio de Fortaleza uma delegação de maçons da Capital cearense: Dr. Álvaro Fernandes, Josias Moura, Antonio Pacheco, Augusto Carlos, Fenelon Ribeiro, Tenente Osimo de Alencar, Dr. Alcides Valente, Américo Justa, Joaquim Cafumba, Dr. Epifânio Leite, Job Roiz, Luis França de Oliveira Lima, Henrique Hellery, Paulino Siqueira Campos, advogado Francisco Queiroz, Francisco Gonzaga, José Alencar Araújo e Francisco Falcão.
Maçons aracatienses que participaram do evento: Bruno Porto da Silva Figueiredo (comerciante), Teófilo Pinto (funcionário público), Antonio Leôncio (vereador),Aluísio Porto(comerciante),Joaquim Porto Caminha (funcionário público),Júlio Caminha Freire(funcionário do lorde),Clóvis Malveira( comerciante), Alexandre Ferreira Costa Lima(funcionário público),Francisco Sales Gurgel( comerciante), Eliezer Cavalcante( funcionário da fábrica Santa Tereza), e Garcez de Castro(funcionário da Casa Costa Lima).
Não consta no livro do autor Antero Pereira filho atuação da maçonaria de Aracati em algum evento político de envergadura. A atuação da maçonaria ficou mais no campo da filantropia, ajudando aos pobres com distribuição de esmolas. Prática condenada pela igreja local que via nessa ação oportunismo da maçonaria.
No dia 30 de junho de 1930 a maçonaria lança seu jornal: “A Liberdade” tendo como redatores os maçons Bruno Porto da Silva Figueiredo (major Bruno), eliezer Cavalcante e o expoente maior da maçonaria de Aracati, Clóvis Malveira.
Vale registrar nesse artigo o maçom Clóvis Malveira deu asilo político ao Dr. Mozart Catunda, ex-secretário de polícia do Estado do Ceará, deposto do cargo pela “revolução” de 30.
No dia 24 de janeiro de 1932, domingo, a loja maçônica Fraternidade de Aracati, realiza uma solene sessão em comemoração ao 3º aniversário da sua fundação.
A loja maçônica vai se consolidar embora temporiamente no dia 19 de fevereiro de 1933 com sede própria na Rua Conselheiro Liberato Barroso, 132. Nesse evento não se tem muitas informações, parece que a solenidade se restringiu aos membros da maçonaria.
No ano de 1935 a conjuntura política de Aracati passará por profundas mudanças. Outras forças políticas vão interagir no Aracati, no caso a LEC – Liga Eleitoral Católica que vai atrair para sua militância muitos aracatienses fervorosos. Outro movimento de abrangência nacional e que teve atuação firme em Aracati foi o movimento integralista, fundado por Plínio, sedimentado nas idéias do fascismo italiano. Teve no Aracati uma atuação muito viva com seus desfiles, símbolos e idéias nacionalistas. Carece de um estudo aprofundado esse movimento integralista em Aracati, sem sombra de dúvida foi o maior movimento que arregimentou mais pessoas para suas fileiras.
Aos poços a maçonaria foi definhando diante dos novos movimentos políticos e religiosos de Aracati. Em 28 de 1935 a maçonaria fazia sua última reunião.
O último embate de maçons e católicos se deu em julho de 1937. O Dr. Eduardo Dias contestava um membro da maçonaria, com o título em latim: Veritas super omnia, o pensamento deveria ter sido escrito assim: Veritas est super omnia amanda et sequenda, creio que expressa melhor a opinião do Dr. Eduardo Dias, traduzindo para o português – “A verdade deve ser amada e seguida acima de tudo”.
O golpe que quebrou as pernas da maçonaria e deixou agonizando aconteceu a partir de um boato onde o governo federal proibia o funcionamento das lojas maçônicas em todo território nacional, como atesta uma reportagem do jornal “O Povo” de 22 outubro de 1937. A verdade chegou tarde, a maçonaria em Aracati padecia.
O golpe de misericórdia foi dado pelo padre Abdon Valério que estrategicamente convocou as figuras ilustres e maçons para um retiro espiritual, depois do retiro todos os cidadãos que participaram abnegaram a maçonaria e queimaram os livros maçons, como atesta o livro “ A maçonaria em Aracati” : “ Ao final de uma solene missa realizada na elitizada igreja do Bomfim, o padre Valério preparou uma cerimônia para que os maçons arrependidos abjurassem da ordem maçônica q que haviam pertencido, e voltassem ao convívio da igreja católica, queimando livros dos rituais maçons numa liturgia parecida com aquelas realizadas na idade média”. Ficava para trás os ideais maçônicos sonhados por idealistas que desejavam um Aracati liberto, fraterno e igualitário.


REFERÊNCIAS
ACIOLY, Augusto César. As luzes da Maçonaria sobre Pernambuco. Paraíba, 2004.
MELLO, Evaldo Cabral de. Dezessete: a maçonaria dividida. Revista Topoi, Rio de Janeiro, 2002.
MOREL, Marco. Sociabilidade entre luzes e sombras: apontamentos para o estudo histórico das maçonarias da primeira metade do século XIX. Revista Estudos Históricos. Rio de Janeiro, n. 28, 2001.
PROEBER, Kurt. A Revolução Nativista Pernambucana 1817. Disponível em: http: /www.resenet.com.br.
SANTOS, Luís Aguiar. Elites culturais e políticas em Portugal. Lisboa: Círculo de Leitores, 2002.
BARATA, Alexandre M. Luzes e sombras. A ação da Maçonaria brasileira (1870-1910). Campinas:Editora da Unicamp/Centro de Memória da Unicamp, 1999.
LINHARES, Marcelo. História da Maçonaria Primitiva, Operativa, Especulativa). Londrina:A Trolha,1997.
MONTEIRO, Eduardo Carvalho. Léon Denis e a Maçonaria. São Paulo:Madras Editora, 2003.
SILVA, Marcos J. D. No compasso do progresso. A Maçonaria e os trabalhadores cearenses. Fortaleza:Expressão Gráfica/Núcleo de Documentação Histórica/NUDOC-UFC, 2007.
______. Modernidade e espiritualismo na imprensa operária cearense da Primeira República.
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2 comentários:

  1. Pretendemos fixar domicilio em Aracatí-CE, até Dezembro/2012, pois em breve nossa aposentadoria no Serviço Público, no Sistema Prisional; pretendemos com 62 anos, continuidade na função de Consultoria de Segurança Patrimonial (Preventiva) e servir à comunidade.Saudações Em Ambas Colunas, Justo e Perfeito!

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  2. oi por gentileza, vc saberia me informar onde posso encontrar o acervo do jornal "O ceará" de Julio Ibiapina? pois estou precisando mt para uma pesquisa. grata pela atenção.

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