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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A Maçonaria no Aracati

A cidade de Aracati teve grande importância econômica no Ceará - daí o período áureo; justamente,  por ser um centro comercial e pecuarista e sobretudo por causa da carne de charque. Por conta da sua importância comercial, é possível que tenha sido o local noqual se instalaram as primeiras lojas maçônicas do Ceará, entre as décadas de 1820 e 1830.

A historiadora Berenice Abreu defende a tese, segundo a qual a maçonaria surgiu de modo pioneiro no Aracati: “É bem possível que a maçonaria tenha aparecido primeiramente em Aracati, uma das poucas localidades da Capitânia do Ceará até meados do século XIX em que se podiam respirar ares urbanos” ( Cf. ABREU, 2009, pág. 58).

Porém essas afirmações carecem de provas documentais. A Confederação do Equador ali montou seu quartel-general; tinha membros da maçonaria, todos os movimentos revolucionários do Brasil sempre tinham maçons nos seus quadros. Tal engajamento explica-se pelos ideais da Revolução Francesa (ideologia iluminista) que tinha como lema a liberdade, a fraternidade e a igualdade. Porém, não significa dizer que o Aracati tivesse maçons, pois a cidade era pacata, tradicional e religiosamente alienada.

Quando os confederados estiveram em Aracati, Tristão Gonçalves, Luiz Inácio de Azevedo (apelido Bolão) e tantos outros, a elite local fugiu da cidade para Mossoró, ou para seus sítios nas cercanias da cidade. Assim, a permanência do aquartelamento do presidente Tristão Gonçalves foi de poucos dias em Aracati, reunindo suas tropas no dia 23 de outubro. Partiu Gonçalves para o interior no intuito de fortalecer suas tropas com as de José Pereira Filgueiras, no entanto Gonçalves foi morto em Santa Rosa. Outros confederados - como Azevedo Bolão, Padre Mororó, Pessoa Anta, Francisco Ibiapina e Feliciano Carapinima foram fuzilados em Fortaleza.

Interessante era a compreensão das pessoas letradas criticando a Proclamação da República, associando-a à  maçonaria e vice-versa; isso acontecia porque, a partir deste evento, o Estado Republicano cortou os privilégios da igreja, tornando o Estado laico. Sabe-se que os religiosos estavam acostumados a mamar nas tetas do Estado Monárquico. A professora Francisca Clotilde escreve um artigo, Liberdade?, no jornal O Rosário, criticando a República de Portugal:

Pobre Portugal! Arrancaram-te teu Deus,
o teu rei, tua liberdade, tua paz,
republicanizaram-te às pressas,
e ainda por cima cantam a Marselhesa...



A informação documental acerca da fundação da maçonaria data-a em torno de 1922; se chamava Loja Maçônica Fraternidade de Aracati. No ano de 1924 o casal Clóvis Malveira Nunes e sua esposa, Elza Meireles Malveira, doaram à maçonaria de Aracati um prédio na Rua Conselheiro Liberato Barroso, nº. 132. A partir desse momento as mentes retrógradas da cidade perceberam que a implantação da maçonaria no Aracati era pra valer! Imagine uma cidade tradicional como Aracati - alimentada intelectualmente por crenças religiosas - e de repente ter que conviver com maçons no mesmo espaço?

Dois movimentos que arrepiavam os cabelos dos religiosos católicos eram o comunismo e a maçonaria. O confronto começou a partir de uma poesia do padre Correia de Almeida com o título A Hora Final em setembro de 1927; criticava os católicos que porventura viessem participar da maçonaria. Em novembro de 1927 José Barbosa Lima publica outro boletim contra a maçonaria com o título: Ao Público Aracatiense. O boletim defendia a reputação do fervoroso católico Antonio Felismino Filho, proprietário do jornal periódico católico O Rosário.

A concretização da loja maçônica no Aracati se realiza no domingo, dia 27 de janeiro de 1929, publicado no jornal A Região, fundado aos 03 de fevereiro de 1929. Para o evento veio uma delegação de maçons da Capital cearense: Dr. Álvaro Fernandes, Josias Moura, Antonio Pacheco, Augusto Carlos, Fenelon Ribeiro, Tenente Osimo de Alencar, Dr. Alcides Valente, Américo Justa, Joaquim Cafumba, Dr. Epifânio Leite, Job Roiz, Luis França de Oliveira Lima, Henrique Hellery, Paulino Siqueira Campos, advogado Francisco Queiroz, Francisco Gonzaga, José Alencar Araújo e Francisco Falcão. Maçons aracatienses que participaram do evento: Bruno Porto da Silva Figueiredo (comerciante), Teófilo Pinto (funcionário público), Antonio Leôncio (vereador), Aluísio Porto (comerciante),Joaquim Porto Caminha (funcionário público),Júlio Caminha Freire(funcionário do lorde),Clóvis Malveira ( comerciante), Alexandre Ferreira Costa Lima (funcionário público),Francisco Sales Gurgel ( comerciante), Eliezer Cavalcante ( funcionário da fábrica Santa Tereza), e Garcez de Castro (funcionário da Casa Costa Lima).

Não consta no livro do autor Antero Pereira filho a atuação da maçonaria de Aracati em algum evento político de envergadura. Crê-se que ficou mais no campo da filantropia, ajudando os pobres com distribuição de esmolas - prática condenada pela igreja local que via nessa ação oportunismo da maçonaria. No dia 30 de junho de 1930 a maçonaria lança seu jornal: A Liberdade, tendo como redatores os maçons Bruno Porto da Silva Figueiredo (Major Bruno), Eliezer Cavalcante e o expoente maior da maçonaria de Aracati, Clóvis Malveira.

Vale registrar nesse artigo que o maçom Clóvis Malveira deu asilo político ao Dr. Mozart Catunda, ex-secretário de polícia do Estado do Ceará, deposto do cargo pela Revolução de 30. No dia 24 de janeiro de 1932, domingo, a loja maçônica Fraternidade de Aracati realiza uma solene sessão em comemoração ao 3º aniversário da sua fundação. A loja maçônica vai se consolidar, embora temporariamente, no dia 19 de fevereiro de 1933 com sede própria na Rua Conselheira Liberato Barroso, 132. Nesse evento não se tem muitas informações, parece que a solenidade se restringiu aos membros da maçonaria.

No ano de 1935 a conjuntura política de Aracati passará por profundas mudanças. Outras forças políticas vão interagir no Aracati, no caso a LEC – Liga Eleitoral Católica, que vai atrair para sua militância muitos aracatienses fervorosos. Outro movimento de abrangência nacional e que teve atuação firme em Aracati foi o movimento integralista, fundado por Plínio Salgado sedimentado nas ideias do fascismo italiano. Teve no Aracati uma atuação muito viva com seus desfiles, símbolos e ideias nacionalistas. Carece de um estudo aprofundado esse movimento integralista em Aracati, vez que, sem sombra de dúvida, foi o movimento que mais arregimentou pessoas para suas fileiras.

Dessa forma, aos poucos a maçonaria  definhava diante dos novos movimentos políticos e religiosos de Aracati. Em 28 de 1935 a maçonaria fazia sua última reunião. O último embate de maçons e católicos se deu em julho de 1937. O Dr. Eduardo Dias contestava um membro da maçonaria num escrito com o título em latim: Veritas super omnia, o pensamento deveria ter sido escrito assim: Veritas est super omnia amanda et sequenda. Acredita-se que expressaria melhor a opinião do Dr. Eduardo Dias. Traduzindo para o português – “A verdade deve ser amada e seguida acima de tudo”.

O golpe que quebrou as pernas da maçonaria e deixou-a agonizando aconteceu a partir de um boato conforme o qual o governo federal proibia o funcionamento das lojas maçônicas em todo o  território nacional, como atesta uma reportagem do jornal O Povo de 22 de outubro de 1937. A verdade chegou tarde: a maçonaria em Aracati padecia... O golpe de misericórdia foi dado pelo padre Abdon Valério que estrategicamente convocou as figuras ilustres e maçons para um retiro espiritual; ao cabo, todos os cidadãos que participaram do ato abnegaram a maçonaria e queimaram os livros maçons - como atesta o historiador Antero Pereira no seu livro A maçonaria em Aracati:

“Ao final de uma solene missa realizada na elitizada igreja do Bomfim, o padre Valério preparou uma cerimônia para que os maçons arrependidos abjurassem da ordem maçônica que haviam pertencido, e voltassem ao convívio da igreja católica, queimando livros dos rituais maçons numa liturgia parecida com aquelas realizadas na idade média”. Ficavam, pois, para trás os ideais maçônicos sonhados por idealistas que desejavam um Aracati liberto, fraterno e igualitário.
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