Aproximamo-nos
de mais um natal. A mídia de olho no 13º salário enfeitiça os consumidores através
de comerciais de vários produtos, trazendo à tona a falsa ilusão que a
felicidade está nos produtos apresentados nas vitrines televisivas. Enquanto os
consumidores ávidos correm atrás das compras de final de ano; nesse ínterim
nossos irmãos do sertão padecem da seca que castiga o torrão nordestino. A água
fornecida por carros pipas, contaminada, como noticiou a mídia nesses dias que
antecedem o natal. A corrupção usurpa até os mais pobres nas suas necessidades
básicas, no caso a água.
O
capitalismo não perdoa nem as datas religiosas, transformam tudo e todos em
mercadoria, e depois do ano novo ressaca e sonhos frustrados.
“Entra
ano, sai ano, cada vez fica mais difícil
O pão, o
arroz, o feijão, o aluguel.
Uma nova
corrida do ouro
O homem
comprando da sociedade o seu papel.”
No natal
não vejo, por parte dos cristãos, uma reflexão substancial em relação ao
nascimento do salvador; o que esse menino filho de um carpinteiro representou
de concreto para a humanidade e continua representando (?). As igrejas cristãs
também aproveitam o ensejo para faturarem financeiramente, as igrejas
evangélicas; a igreja católica com seus sermões medievais, se restringindo mais
no campo teológico e menos no político-social. Alguns religiosos imbuídos dos
valores evangélicos fazem uma crítica mais social, porém uma minoria dentro da
igreja católica assume esse papel profético.
Durante o
natal a boiada é estourada, todos correm as compras munidos dos cartões de
crédito, cheque e dinheiro, compram até ‘estourar’ os cartões. Comem e bebem
como a aristocracia romana antiga, nas suas orgias. Os shoppings lotados de
pessoas fazendo compras para o Natal, presentes para todos os familiares e
amigos; os que tem poder aquisitivo. A palavra de ordem da boiada é “queimar”
tudo, que se dane o dia de amanhã.
Nem tudo
no natal é negativo. Vejo com bons olhos no natal a reunião das famílias que se
juntam para comemorar a vinda do salvador, juntas as famílias celebram a
mensagem natalina a partir do evangelista Lucas:
“Enquanto
estavam ali, chegou o tempo em que ela havia de dar à luz, e teve a seu filho
primogênito; envolveu-o em faixas e o deitou em uma manjedoura, porque não
havia lugar para eles na estalagem” (Lc 2, 6-7).
Na Semana
Santa os cristãos refazem os caminhos da via crúcis, muitas orações regrada à
lágrimas, promessas, no entanto mudança para valer não se ver. É triste saber
como chegamos ao fundo do poço em termos de espiritualidade nos dias atuais. A conformidade
com a violência assusta, com a impunidade, com a corrupção e falta de moral diante
dos valores humanos não mais comove as pessoas, tudo passa despercebido pela
maioria. De tanto presenciar tantas atrocidades aos direitos humanos estamos
imunes, parece que nada acontece fora dos muros das nossas casas.
A Semana
Santa deveria ser um momento de reflexão para todos os Cristãos, a doação de um
homem que deu a sua vida a serviço do próximo, acreditando numa sociedade mais
justa, sem opressão e dominação, seja religiosa ou política. Foi entregue pelos
judeus aos romanos para ser crucificado. Jesus Cristo criticava a prática dos
judeus no trato das coisas sagradas, bateu de frente com os romanos, farisaísmo,
saduceus (seitas religiosas da época de Cristo). Temerosos dos
ensinamentos de Cristo que a cada dia arregimentava mais discípulos, os
fariseus resolveram entregar Cristo aos romanos, acusando-o de desejar ser o
rei dos judeus e por fim a dominação romana na região.
Cristo foi entregue a Pôncio Pilatos que
tentou livrá-lo da condenação, porque não via em Cristo nenhuma culpa, porém o
circo montado pelos fariseus estava feito para condenar Cristo e soltar
Barrabás, a plebe preferiu soltar um “criminoso” a Cristo inocente. Sua culpa
desejar um mundo mais justo, onde não houvesse separação de classes sociais.
Na sexta-feira
santa muitos Cristãos se embriagam com vinho para “celebrar” a morte de Cristo,
vinho de péssima qualidade, os que bebem imaginam que é vinho de qualidade, contudo
é apenas a borra das uvas que aproveitam para fabricar essa bebida chamada de
“vinhos santos”, São Brás, São Francisco, Dom Bosco..., pense numa ressaca, a
de vinho. O vinho bom é para degustar e não encher a cara até virar a perna e
“botar boneco”, aliás, o que tem ver a via crúcis com embriaguez (?), não vejo
nos Evangelhos nenhuma passagem bíblica que incentive essa prática etílica.
A Páscoa
é vida nova, Ressurreição. A Páscoa é um convite aos cristãos de boa vontade a
mudarem de postura em relação aos seus semelhantes, a si próprio, deixar o
egoísmo pela coletividade, eis o propósito da Ressurreição. Nos dias de hoje o
capitalismo transformou a data numa corrida por consumo de chocolate, o que tem
a ver Páscoa com ‘ovos de chocolate’?
Tantos
seres humanos sem um porto seguro, jovens viciados em drogas e no tráfico, sertanejos
com sede, guerras intermináveis e sem sentido, bastas percorrer os países mais
pobres do mundo e veremos que a mensagem cristã não foi ouvida por todos, nem
assimilada, como posso ser feliz enquanto meus irmãos morrem por falta de
comida, de agasalho para conter o frio das ruas, abandono...
“Isso
tudo acontecendo e eu aqui na praça
dando milho aos pombos”.
dando milho aos pombos”.
Não é por falta de comida, pois a tecnologia
nos proporciona safras recordes de grãos, mas por ganância dos que detêm o
poder e querem ganhar cada vez mais em detrimento dos mais pobres.
Seria
interessante que nesse Natal, nossa celebração natalina fosse compartilhada com
os mais necessitados e fôssemos solidários com os nossos semelhantes mais
carentes. E nunca perder a nossa criticidade perante esse sistema econômico
injusto que maltrata os mais pobres.
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