A humanidade padece de doenças
incuráveis na modernidade, a qual pode sintetizar numa palavra: insensibilidade. São fantasmas que veem
e ouvem as atrocidades do cotidiano e, no entanto, não se comovem com o cheiro
de sangue que paira no ar. As relações humanas, nos moldes em que nossos
antepassados vivenciaram, deixaram de existir No presente somos seres anônimos,
corremos desesperadamente atrás da sobrevivência e o destino mais certo nos
espreita: a morte. A violência do cotidiano desplugou-nos de nossos
sentimentos, distanciamo-nos de nossos semelhantes; vivemos enclausurados atrás
de muralhas, grades de ferro, câmeras de segurança, alarmes, carros blindados e
toda essa parafernália tecnológica de segurança. Nada disso impede, contudo,
que sejamos alvejados por uma bala perdida. As redes sociais prometem a
“felicidade”, a velocidade em que aceitamos “amigos” e os excluímos das nossas
vidas num piscar de olhos. Uma sociedade que tem pressa para chegar a lugar
nenhum. Por falta do aconchego humano as pessoas sofrem, padecem de doenças da
“modernidade líquida”, ansiedade, depressão e síndrome do pânico. Os
consultórios de profissionais da saúde mental não atravessam crises econômicas,
estão sempre lotados de pacientes. Outro setor que não reclama da crise são as
farmácias; vão muito bem, obrigado aos tolos que se drogam na ilusão de que
assim superam os seus problemas existenciais. Nossos pais sabiam viver no
aspecto “calor humano”. Nas noites de lua cheia os vizinhos se reuniam para
contemplar a lua e partilhar estórias de trancoso. As conversas amigáveis e a
segurança de estar no lugar certo na hora certa varavam a madrugada; bons
tempos, apesar das adversidades econômicas e políticas. O relógio das rodas de
amigos, o cantar dos galos, a hora de dormir. Hoje somos reféns da violência, a
cultura do medo alimentada pela mídia sensacionalista que todos os dias invade
as nossas casas para mostrar as banalidades nua e cruamente. De tanto
presenciar cenas de violência as pessoas não mais sensibilizam-se. Estamos anestesiados,
sentimentos de bondade aprisionados num quarto escuro e sombrio do
inconsciente. Libertar esses fantasmas do medo não é tarefa fácil: requer uma
transformação radical da sociedade; enquanto essa revolução não chega uma
mudança de postura já seria de bom tamanho. A vida humana se tornou uma
mercadoria diante da sociedade de consumo; aliás, tudo hoje tem um preço, por
isso sofremos o pão que o diabo amassou. O futuro é incerto, criamos uma
sociedade destrutiva, não-humanitária. O espaço em derredor, a natureza todos
os dias agredida pela maldade humana.
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