segunda-feira, 12 de maio de 2014
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A última flor do Lácio
“Esta língua é como um elástico que espicharam pelo mundo" (Gilberto Mendonça Teles).
Muito se tem falado sobre o bom uso da língua portuguesa. No entanto cada vez mais escrevemos e e falamos mal a língua mãe, a última flor do Lácio. As estatísticas comprovam isso. Numa pesquisa feita pelo Núcleo Brasileiro de Estágios(NUBE), 40% dos candidatos são reprovados pelos erros de português, principalmente alunos do ensino médio, 49,1%. O ENEM também aponta a nossa deficiência no trato da língua portuguesa.
O ensino da língua portuguesa tem enveredado por caminhos que não tem ajudado os alunos a entenderem a língua. O aluno é obrigado a decorar regras de português e a ler livros que foge a sua compreensão. Seria mais interessante incentivar os alunos a lerem com afinco, respeitando o grau de dificuldades de cada aluno, dentro da faixa etária, criando o hábito de leitura. Aprende-se a escrever bem e falar com desenvoltura com leituras dos clássicos da língua portuguesa e a posteriori os clássicos da literatura mundial, sempre acompanhado por um bom dicionário.
A escritora Patrícia Secco gerou uma polêmica nos meios acadêmicos ao simplificar a obra de Machado de Assis numa linguagem mais acessível aos jovens. Em junho a escritora lançará a obra machadiana “O Alienista” (1882), juntamente com a obra alencarina “ A Pata da Gazela”(1870).
Os críticos apontam que essa simplicação vai empobrecer a obra machadiana e ao mesmo tempo nivelar o nível de conhecimento por baixo. Secco se defende ao dizer que não muda o estilo do escritor e muito menos empobrece a obra: “ A ideia não é mudar o que ele disse, só tornar mais fácil.” Pesquei na internet um comentário de uma vestibulanda sobre o livro de José de Alencar, a "Pata da Gazela" : "muito bom, me ajudou muito tenho dificuldade em interpretar livros com palavras "difíceis" sendo que baixei o livro "original" só que acabei procurando o resumo e esse é muito bom principalmente para vestibulandas como eu". As resenhas das obras clássicas se encontram aos montes na internet, os cursinhos de pré-vestibulares já trabalham com essas obras resumidas. A polêmica se deu por causa da oficialidade do evento, ou seja, a publicação divulgada pelos meios de comunicação. As traduções dos clássicos por mais que sejam bem traduzidas, sabemos que muitas palavras são intraduzíveis, como diz o ditado latino: “Todo tradutor é um traidor”.
“Tudo vale a pena se a alma não é pequena” , assim se expressou o maior poeta da língua portuguesa, Fernando Pessoa.
Vale a ousadia de Secco para estimular o hábito de leitura junto a população brasileira que ler pouco e mal. A escritora Secco enveredou por esse caminho, que não é novo, pode ser um saída para os jovens criarem o gosto pelos escritores brasileiros. Contudo outros caminhos existem, poderia se começar com as obras machadianas pelos contos, os mais curtos, partindo do mais simples para o mais complexo. O importante é plantar a semente do bom leitor na cabeça do público infantojuvenil, para que aprendam a ler com qualidade e criticidade.
As escolas pelo menos as públicas perderam o hábito de cobrar dos alunos leituras das obras estudadas em sala, o argumento é que os alunos não podem comprar livros paradidáticos, porque são caros. As bibliotecas sucateadas não possuem um acervo literário que permita empréstimos dos livros solicitados pelo professor, quando tem, é apenas uma obra e não pode atender a demanda. Mas não é desculpa, pois a internet hoje permite ao aluno baixar diversas obras de diversos autores.
Enquanto as polêmicas se arrastam, a nossa língua padece, a “última flor do Lácio, inculta e bela”, verso do soneto a "Língua portuguesa", de Olavo Bilac, poeta parnasiano.
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