No presente debate pedagógico
vamos tentar entender os sete saberes do educador francês Edgar Morin sob a
perspectiva do século XXI. O intuito é compreender os desafios do ensino
básico, nestes tempos de globalização e desagregação planetária.
As
cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão. A escola sempre tratou o erro como diagnóstico negativo.
Ora, para se chegar a um resultado correto é necessário errar inúmeras vezes
até chegar a um resultado convincente, correndo riscos ilusórios. Diz o ditado
popular: “Quem não arrisca não petisca”. Em pleno século XXI, com todos os
avanços científicos e tecnológicos, os professores não aprenderam ainda a
conviver com os erros dos alunos. Numa avaliação escolar, por mais que o aluno
se aproxime do resultado, se não chega à resposta do gabarito, o risco vermelho
elimina a questão. As tentativas, no caso, não valem nada? A escola foi
formatada para não aceitar os erros, herança dos fundamentos cartesianos que
foram absorvidos pela educação no século XX.
Outro ponto importante trata-se dos
princípios dos conhecimentos pertinentes. A educação fragmentou os conhecimentos na ilusão de compreender
melhor por unidades. Na escola os conhecimentos foram divididos em disciplinas:
para cada disciplina existe um livro. O mais nefasto dessa fragmentação são as
disciplinas, que não interagirem dialeticamente. Os educandos, ao concluírem o
ensino médio, carecem de uma visão de totalidade. Por isso muitos deles têm
dificuldade em analisar um contexto social nos diversos aspectos, ou seja,
econômico, político, cultural...
Ensinar a condição humana: o respeito pelo outro é vital para vivermos
em paz conosco mesmos e com outros semelhantes. O trabalho colegiado é mais
produtivo. O ser humano [biológico, psíquico, afetivo, social e racional] está
inserido num contexto societário nas mais variadas concepções [histórico,
econômico, sociológico e religioso]. Neste contexto, nem sempre têm sido
favoráveis aos profissionais da educação. No Brasil a educação ainda não é uma
prioridade do governo. E quando o grupo não se afina, o trabalho se torna mais
espinhoso dentro da escola.
Ensinar a identidade terrena: a Terra-Pátria é o habitat de todos os
seres vivos. Os educadores são intimados a discutir em sala de aula os
problemas atuais que agridem o planeta. Por sermos “racionais” temos
responsabilidades com os outros moradores. Por atitudes erradas, muitas
espécies foram extintas e outras se encontram ameaçadas; omitir-se perante
estes fatos é um ato de covardia. A ecologia permeia todas as disciplinas do
saber. Os efeitos das agressões são visíveis e sentidas pelas mais diversas
comunidades espalhadas pelo mundo. As barragens da mineradora SAMARCO
romperam-se, deixando para trás rastros de destruição, matando pessoas, a fauna
e a flora. O rio Doce era uma fonte de sustento para muito ribeirinhos nas
Minas Gerais.
Enfrentar as incertezas: a nossa vivência terrena é ínfima diante da
grandiosidade do universo. As incertezas nos incomodam, pois não temos
respostas para as nossas angustias existenciais. Eis os questionamentos que nos
acompanham ao longo do tempo: quem sou eu? de onde vim? Para onde vou? A
filosofia tenta respondê-los; no entanto, as respostas não saciam a fome das
incertezas da vida terrena.
Ensinar a compreensão: tal atitude nos humaniza, em particular o
perdão. A aceitação do outro com seus defeitos e qualidades é um exercício
diário. A intolerância nos dias atuais tem provocado tantas guerras, atentados
terroristas, crimes os mais diversos, quando por um simples diálogo poderia se
evitar uma morte. O poder é efêmero, estamos na Terra-Pátria de passagem. A
ética do gênero humano: nos dias atuais esta palavra vulgarizou-se na boca dos
políticos, demagogos e oportunistas. A realidade circundante é outra: todos os
dias a mídia anuncia um escândalo de corrupção na política: os mesmos que
estufavam o peito para falar de ética.
A ética se tornou para alguns um instrumento para chegar ao poder,
enganando o povo. Para entrar nos esquemas do Congresso Nacional se criou uma
palavra mágica: “Abre-te sésamo”, a saber: só o acessa quem compactua com os
desmandos de corrupção. O cidadão, nesse lamaçal, fica sem perspectivas de
avaliação, enquadram-se todos os políticos numa vala comum. Ainda temos,
contudo, políticos sérios. O que é a antropo-ética? Algo muito simples de ser
entendido e vivenciado diariamente nas escolas. “Não faça aos outros o que não deseja que lhe façam!" É esta a
essência do que discorre Morin em sua interessante obra.
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