Segunda-feira (21/11) dia de nosso Senhor Jesus Cristo, acordei com uma dor de cotovelo medonha, não por mulheres, mas por umas aulas que tive no Seminário (Marista) de filosofia. Uma aula muito interessante foi a reflexão do Mito da Caverna de Platão. Na época minha visão era metafísica e religiosa cristã. Infelizmente minha visão política não era tão aguçada como hoje. Aproveito agora para analisar a política e as redes sociais a partir da alegoria da Caverna de Platão, para vermos como esse Mito hoje em dia é tão atual.
Um breve resumo do Mito para o leitor se situar na discussão: “Imagine uma caverna e dentro dela pessoas que nasceram e cresceram nesse espaço, todos acorrentados e presos do mundo exterior. Na caverna apenas uma fresta por onde passa um feixe de luz. Os seres só vêem a parede da caverna e nela sombras e vozes, pensam que essas sombras advindas do mundo exterior são reais. Um dos homens consegue fugir e ir de encontro com o mundo exterior, em contato com o mundo exterior percebe que tudo que via na parede eram apenas sombras e fantasias. Caso ele decida voltar à caverna para revelar aos seus antigos companheiros a situação extremamente enganosa em que se encontram, correrá sérios riscos - desde o simples fato de ser ignorado até, caso consigam, ser agarrado e morto por eles, que o tomaram por louco e inventor de mentiras. Eis o grande dilema de quem tenta conscientizar o povo...
Meus escritos nem sempre são compreendidos e muitas vezes ameaçado por represálias, e até perseguido por pessoas que estão no poder e não aceitam críticas. Numa democracia os governantes precisam aceitar essas críticas, que advêm de quem pensa de modo diferente. Já imaginou se todos os seres humanos pensassem de um modo só, o que seria de nós mortais? O belo da democracia é permitir pensamentos múltiplos, alternância no poder e oportunidades iguais para todos, sem nenhum tipo de preconceito. Nem tudo que escrevemos é verdadeiro, mas no meio de tantos escritos, existe uma vontade de acertar e conscientizar a massa para perceberem que existe um mundo exterior sem alienação, palpável aos sentidos.
Quando me defronto com a mídia audiovisual recordo da Alegoria e vejo tantas pessoas acreditarem que o que vêem na TV é verdadeiro, tanto nos telejornais, novelas, documentários, falas de políticos, programas dos partidos políticos com suas mentiras, anúncios dos governantes tentando enganar o povo. É uma pena que nem todo mundo teve a oportunidade de uma formação filosófica e a própria escola não prioriza essa disciplina, por isso tantos cegos em nossa sociedade, pensando que o mundo é feito por sombras.
Os políticos são os mais mentirosos: apresentam para o povo apenas sombras e muitas acreditam que o mundo real é esse propagado por políticos que enganam o povo em benefício próprio. Sobem no palanque e discursam com uma oratória que se dilui na primeira brisa; vejo a platéia como os prisioneiros da caverna que pensam que tudo que eles falam é verdade.
De modo geral a sociedade capitalista é uma grande enganação. A sociedade é um grande telão onde é apresentado ao público aquilo que interessa aos grandes grupos econômicos que não tão nem aí para povo - natureza, esperança, futuro... O que vale é o lucro imediatista.
As redes sociais, com a propagação da Internet, é a grande ilusão. No fundo as pessoas gostam disso, porque o sofrimento é menor. Nem todos nasceram para encarar a realidade nua e crua. Como dizem os mais velhos (sábios), é preciso sangue no olho para encarar a vida. De todos os segmentos da sociedade não existe um tão maléfico como as redes sociais, sem menosprezar o lado bom das redes, mas existe muita mentira por trás dessas redes que fazem de tudo para enrolar o povo.
O Mito da Caverna foi uma alusão ao Filosofo Sócrates que tentou conscientizar a juventude de seu tempo e foi morto, acusado de corromper a juventude. Hoje tantos mártires tentam lutar por uma sociedade mais justa e acabam mortos pelos que detêm o poder político e econômico; mas... a luta continua. Só abandonam a luta os covardes e os interesseiros.
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
terça-feira, 10 de dezembro de 2013
CONTO DE FADA - "A MENINA DOS FÓSFOROS" - Minha mensagem de natal e de ano novo a todos meus amigos, familiares e leitores do meu blog. Que 2014 seja um ano de muito paz, saúde e felicidade para todos.
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Vinicius de Moraes, poeta e diplomata.
Papa: "Natal é abrir o coração para receber Jesus"
Aproximamo-nos
de mais um natal. A mídia de olho no 13º salário enfeitiça os consumidores através
de comerciais de vários produtos, trazendo à tona a falsa ilusão que a
felicidade está nos produtos apresentados nas vitrines televisivas. Enquanto os
consumidores ávidos correm atrás das compras de final de ano; nesse ínterim
nossos irmãos do sertão padecem da seca que castiga o torrão nordestino. A água
fornecida por carros pipas, contaminada, como noticiou a mídia nesses dias que
antecedem o natal. A corrupção usurpa até os mais pobres nas suas necessidades
básicas, no caso a água.
O
capitalismo não perdoa nem as datas religiosas, transformam tudo e todos em
mercadoria, e depois do ano novo ressaca e sonhos frustrados.
“Entra
ano, sai ano, cada vez fica mais difícil
O pão, o
arroz, o feijão, o aluguel.
Uma nova
corrida do ouro
O homem
comprando da sociedade o seu papel.”
No natal
não vejo, por parte dos cristãos, uma reflexão substancial em relação ao
nascimento do salvador; o que esse menino filho de um carpinteiro representou
de concreto para a humanidade e continua representando (?). As igrejas cristãs
também aproveitam o ensejo para faturarem financeiramente, as igrejas
evangélicas; a igreja católica com seus sermões medievais, se restringindo mais
no campo teológico e menos no político-social. Alguns religiosos imbuídos dos
valores evangélicos fazem uma crítica mais social, porém uma minoria dentro da
igreja católica assume esse papel profético.
Durante o
natal a boiada é estourada, todos correm as compras munidos dos cartões de
crédito, cheque e dinheiro, compram até ‘estourar’ os cartões. Comem e bebem
como a aristocracia romana antiga, nas suas orgias. Os shoppings lotados de
pessoas fazendo compras para o Natal, presentes para todos os familiares e
amigos; os que tem poder aquisitivo. A palavra de ordem da boiada é “queimar”
tudo, que se dane o dia de amanhã.
Nem tudo
no natal é negativo. Vejo com bons olhos no natal a reunião das famílias que se
juntam para comemorar a vinda do salvador, juntas as famílias celebram a
mensagem natalina a partir do evangelista Lucas:
“Enquanto
estavam ali, chegou o tempo em que ela havia de dar à luz, e teve a seu filho
primogênito; envolveu-o em faixas e o deitou em uma manjedoura, porque não
havia lugar para eles na estalagem” (Lc 2, 6-7).
Na Semana
Santa os cristãos refazem os caminhos da via crúcis, muitas orações regrada à
lágrimas, promessas, no entanto mudança para valer não se ver. É triste saber
como chegamos ao fundo do poço em termos de espiritualidade nos dias atuais. A conformidade
com a violência assusta, com a impunidade, com a corrupção e falta de moral diante
dos valores humanos não mais comove as pessoas, tudo passa despercebido pela
maioria. De tanto presenciar tantas atrocidades aos direitos humanos estamos
imunes, parece que nada acontece fora dos muros das nossas casas.
A Semana
Santa deveria ser um momento de reflexão para todos os Cristãos, a doação de um
homem que deu a sua vida a serviço do próximo, acreditando numa sociedade mais
justa, sem opressão e dominação, seja religiosa ou política. Foi entregue pelos
judeus aos romanos para ser crucificado. Jesus Cristo criticava a prática dos
judeus no trato das coisas sagradas, bateu de frente com os romanos, farisaísmo,
saduceus (seitas religiosas da época de Cristo). Temerosos dos
ensinamentos de Cristo que a cada dia arregimentava mais discípulos, os
fariseus resolveram entregar Cristo aos romanos, acusando-o de desejar ser o
rei dos judeus e por fim a dominação romana na região.
Cristo foi entregue a Pôncio Pilatos que
tentou livrá-lo da condenação, porque não via em Cristo nenhuma culpa, porém o
circo montado pelos fariseus estava feito para condenar Cristo e soltar
Barrabás, a plebe preferiu soltar um “criminoso” a Cristo inocente. Sua culpa
desejar um mundo mais justo, onde não houvesse separação de classes sociais.
Na sexta-feira
santa muitos Cristãos se embriagam com vinho para “celebrar” a morte de Cristo,
vinho de péssima qualidade, os que bebem imaginam que é vinho de qualidade, contudo
é apenas a borra das uvas que aproveitam para fabricar essa bebida chamada de
“vinhos santos”, São Brás, São Francisco, Dom Bosco..., pense numa ressaca, a
de vinho. O vinho bom é para degustar e não encher a cara até virar a perna e
“botar boneco”, aliás, o que tem ver a via crúcis com embriaguez (?), não vejo
nos Evangelhos nenhuma passagem bíblica que incentive essa prática etílica.
A Páscoa
é vida nova, Ressurreição. A Páscoa é um convite aos cristãos de boa vontade a
mudarem de postura em relação aos seus semelhantes, a si próprio, deixar o
egoísmo pela coletividade, eis o propósito da Ressurreição. Nos dias de hoje o
capitalismo transformou a data numa corrida por consumo de chocolate, o que tem
a ver Páscoa com ‘ovos de chocolate’?
Tantos
seres humanos sem um porto seguro, jovens viciados em drogas e no tráfico, sertanejos
com sede, guerras intermináveis e sem sentido, bastas percorrer os países mais
pobres do mundo e veremos que a mensagem cristã não foi ouvida por todos, nem
assimilada, como posso ser feliz enquanto meus irmãos morrem por falta de
comida, de agasalho para conter o frio das ruas, abandono...
“Isso
tudo acontecendo e eu aqui na praça
dando milho aos pombos”.
dando milho aos pombos”.
Não é por falta de comida, pois a tecnologia
nos proporciona safras recordes de grãos, mas por ganância dos que detêm o
poder e querem ganhar cada vez mais em detrimento dos mais pobres.
Seria
interessante que nesse Natal, nossa celebração natalina fosse compartilhada com
os mais necessitados e fôssemos solidários com os nossos semelhantes mais
carentes. E nunca perder a nossa criticidade perante esse sistema econômico
injusto que maltrata os mais pobres.
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
A Maçonaria no Aracati
A
cidade de Aracati teve grande importância
econômica no Ceará - daí o período áureo; justamente, por ser um centro comercial e pecuarista e sobretudo
por causa da carne de charque. Por conta da sua importância comercial, é
possível que tenha sido o local noqual se instalaram as primeiras
lojas
maçônicas do Ceará, entre as décadas de 1820 e 1830.
A historiadora Berenice Abreu defende a tese, segundo a qual a maçonaria surgiu de modo pioneiro no Aracati: “É bem possível que a maçonaria tenha aparecido primeiramente em Aracati, uma das poucas localidades da Capitânia do Ceará até meados do século XIX em que se podiam respirar ares urbanos” ( Cf. ABREU, 2009, pág. 58).
Porém essas afirmações carecem de provas documentais. A Confederação do Equador ali montou seu quartel-general; tinha membros da maçonaria, todos os movimentos revolucionários do Brasil sempre tinham maçons nos seus quadros. Tal engajamento explica-se pelos ideais da Revolução Francesa (ideologia iluminista) que tinha como lema a liberdade, a fraternidade e a igualdade. Porém, não significa dizer que o Aracati tivesse maçons, pois a cidade era pacata, tradicional e religiosamente alienada.
Quando os confederados estiveram em Aracati, Tristão Gonçalves, Luiz Inácio de Azevedo (apelido Bolão) e tantos outros, a elite local fugiu da cidade para Mossoró, ou para seus sítios nas cercanias da cidade. Assim, a permanência do aquartelamento do presidente Tristão Gonçalves foi de poucos dias em Aracati, reunindo suas tropas no dia 23 de outubro. Partiu Gonçalves para o interior no intuito de fortalecer suas tropas com as de José Pereira Filgueiras, no entanto Gonçalves foi morto em Santa Rosa. Outros confederados - como Azevedo Bolão, Padre Mororó, Pessoa Anta, Francisco Ibiapina e Feliciano Carapinima foram fuzilados em Fortaleza.
Interessante era a compreensão das pessoas letradas criticando a Proclamação da República, associando-a à maçonaria e vice-versa; isso acontecia porque, a partir deste evento, o Estado Republicano cortou os privilégios da igreja, tornando o Estado laico. Sabe-se que os religiosos estavam acostumados a mamar nas tetas do Estado Monárquico. A professora Francisca Clotilde escreve um artigo, Liberdade?, no jornal O Rosário, criticando a República de Portugal:
Pobre Portugal! Arrancaram-te teu Deus,
o teu rei, tua liberdade, tua paz,
republicanizaram-te às pressas,
e ainda por cima cantam a Marselhesa...
A informação documental acerca da fundação da maçonaria data-a em torno de 1922; se chamava Loja Maçônica Fraternidade de Aracati. No ano de 1924 o casal Clóvis Malveira Nunes e sua esposa, Elza Meireles Malveira, doaram à maçonaria de Aracati um prédio na Rua Conselheiro Liberato Barroso, nº. 132. A partir desse momento as mentes retrógradas da cidade perceberam que a implantação da maçonaria no Aracati era pra valer! Imagine uma cidade tradicional como Aracati - alimentada intelectualmente por crenças religiosas - e de repente ter que conviver com maçons no mesmo espaço?
Dois movimentos que arrepiavam os cabelos dos religiosos católicos eram o comunismo e a maçonaria. O confronto começou a partir de uma poesia do padre Correia de Almeida com o título A Hora Final em setembro de 1927; criticava os católicos que porventura viessem participar da maçonaria. Em novembro de 1927 José Barbosa Lima publica outro boletim contra a maçonaria com o título: Ao Público Aracatiense. O boletim defendia a reputação do fervoroso católico Antonio Felismino Filho, proprietário do jornal periódico católico O Rosário.
A concretização da loja maçônica no Aracati se realiza no domingo, dia 27 de janeiro de 1929, publicado no jornal A Região, fundado aos 03 de fevereiro de 1929. Para o evento veio uma delegação de maçons da Capital cearense: Dr. Álvaro Fernandes, Josias Moura, Antonio Pacheco, Augusto Carlos, Fenelon Ribeiro, Tenente Osimo de Alencar, Dr. Alcides Valente, Américo Justa, Joaquim Cafumba, Dr. Epifânio Leite, Job Roiz, Luis França de Oliveira Lima, Henrique Hellery, Paulino Siqueira Campos, advogado Francisco Queiroz, Francisco Gonzaga, José Alencar Araújo e Francisco Falcão. Maçons aracatienses que participaram do evento: Bruno Porto da Silva Figueiredo (comerciante), Teófilo Pinto (funcionário público), Antonio Leôncio (vereador), Aluísio Porto (comerciante),Joaquim Porto Caminha (funcionário público),Júlio Caminha Freire(funcionário do lorde),Clóvis Malveira ( comerciante), Alexandre Ferreira Costa Lima (funcionário público),Francisco Sales Gurgel ( comerciante), Eliezer Cavalcante ( funcionário da fábrica Santa Tereza), e Garcez de Castro (funcionário da Casa Costa Lima).
Não consta no livro do autor Antero Pereira filho a atuação da maçonaria de Aracati em algum evento político de envergadura. Crê-se que ficou mais no campo da filantropia, ajudando os pobres com distribuição de esmolas - prática condenada pela igreja local que via nessa ação oportunismo da maçonaria. No dia 30 de junho de 1930 a maçonaria lança seu jornal: A Liberdade, tendo como redatores os maçons Bruno Porto da Silva Figueiredo (Major Bruno), Eliezer Cavalcante e o expoente maior da maçonaria de Aracati, Clóvis Malveira.
Vale registrar nesse artigo que o maçom Clóvis Malveira deu asilo político ao Dr. Mozart Catunda, ex-secretário de polícia do Estado do Ceará, deposto do cargo pela Revolução de 30. No dia 24 de janeiro de 1932, domingo, a loja maçônica Fraternidade de Aracati realiza uma solene sessão em comemoração ao 3º aniversário da sua fundação. A loja maçônica vai se consolidar, embora temporariamente, no dia 19 de fevereiro de 1933 com sede própria na Rua Conselheira Liberato Barroso, 132. Nesse evento não se tem muitas informações, parece que a solenidade se restringiu aos membros da maçonaria.
No ano de 1935 a conjuntura política de Aracati passará por profundas mudanças. Outras forças políticas vão interagir no Aracati, no caso a LEC – Liga Eleitoral Católica, que vai atrair para sua militância muitos aracatienses fervorosos. Outro movimento de abrangência nacional e que teve atuação firme em Aracati foi o movimento integralista, fundado por Plínio Salgado sedimentado nas ideias do fascismo italiano. Teve no Aracati uma atuação muito viva com seus desfiles, símbolos e ideias nacionalistas. Carece de um estudo aprofundado esse movimento integralista em Aracati, vez que, sem sombra de dúvida, foi o movimento que mais arregimentou pessoas para suas fileiras.
Dessa forma, aos poucos a maçonaria definhava diante dos novos movimentos políticos e religiosos de Aracati. Em 28 de 1935 a maçonaria fazia sua última reunião. O último embate de maçons e católicos se deu em julho de 1937. O Dr. Eduardo Dias contestava um membro da maçonaria num escrito com o título em latim: Veritas super omnia, o pensamento deveria ter sido escrito assim: Veritas est super omnia amanda et sequenda. Acredita-se que expressaria melhor a opinião do Dr. Eduardo Dias. Traduzindo para o português – “A verdade deve ser amada e seguida acima de tudo”.
O golpe que quebrou as pernas da maçonaria e deixou-a agonizando aconteceu a partir de um boato conforme o qual o governo federal proibia o funcionamento das lojas maçônicas em todo o território nacional, como atesta uma reportagem do jornal O Povo de 22 de outubro de 1937. A verdade chegou tarde: a maçonaria em Aracati padecia... O golpe de misericórdia foi dado pelo padre Abdon Valério que estrategicamente convocou as figuras ilustres e maçons para um retiro espiritual; ao cabo, todos os cidadãos que participaram do ato abnegaram a maçonaria e queimaram os livros maçons - como atesta o historiador Antero Pereira no seu livro A maçonaria em Aracati:
“Ao final de uma solene missa realizada na elitizada igreja do Bomfim, o padre Valério preparou uma cerimônia para que os maçons arrependidos abjurassem da ordem maçônica que haviam pertencido, e voltassem ao convívio da igreja católica, queimando livros dos rituais maçons numa liturgia parecida com aquelas realizadas na idade média”. Ficavam, pois, para trás os ideais maçônicos sonhados por idealistas que desejavam um Aracati liberto, fraterno e igualitário.
A historiadora Berenice Abreu defende a tese, segundo a qual a maçonaria surgiu de modo pioneiro no Aracati: “É bem possível que a maçonaria tenha aparecido primeiramente em Aracati, uma das poucas localidades da Capitânia do Ceará até meados do século XIX em que se podiam respirar ares urbanos” ( Cf. ABREU, 2009, pág. 58).
Porém essas afirmações carecem de provas documentais. A Confederação do Equador ali montou seu quartel-general; tinha membros da maçonaria, todos os movimentos revolucionários do Brasil sempre tinham maçons nos seus quadros. Tal engajamento explica-se pelos ideais da Revolução Francesa (ideologia iluminista) que tinha como lema a liberdade, a fraternidade e a igualdade. Porém, não significa dizer que o Aracati tivesse maçons, pois a cidade era pacata, tradicional e religiosamente alienada.
Quando os confederados estiveram em Aracati, Tristão Gonçalves, Luiz Inácio de Azevedo (apelido Bolão) e tantos outros, a elite local fugiu da cidade para Mossoró, ou para seus sítios nas cercanias da cidade. Assim, a permanência do aquartelamento do presidente Tristão Gonçalves foi de poucos dias em Aracati, reunindo suas tropas no dia 23 de outubro. Partiu Gonçalves para o interior no intuito de fortalecer suas tropas com as de José Pereira Filgueiras, no entanto Gonçalves foi morto em Santa Rosa. Outros confederados - como Azevedo Bolão, Padre Mororó, Pessoa Anta, Francisco Ibiapina e Feliciano Carapinima foram fuzilados em Fortaleza.
Interessante era a compreensão das pessoas letradas criticando a Proclamação da República, associando-a à maçonaria e vice-versa; isso acontecia porque, a partir deste evento, o Estado Republicano cortou os privilégios da igreja, tornando o Estado laico. Sabe-se que os religiosos estavam acostumados a mamar nas tetas do Estado Monárquico. A professora Francisca Clotilde escreve um artigo, Liberdade?, no jornal O Rosário, criticando a República de Portugal:
Pobre Portugal! Arrancaram-te teu Deus,
o teu rei, tua liberdade, tua paz,
republicanizaram-te às pressas,
e ainda por cima cantam a Marselhesa...
A informação documental acerca da fundação da maçonaria data-a em torno de 1922; se chamava Loja Maçônica Fraternidade de Aracati. No ano de 1924 o casal Clóvis Malveira Nunes e sua esposa, Elza Meireles Malveira, doaram à maçonaria de Aracati um prédio na Rua Conselheiro Liberato Barroso, nº. 132. A partir desse momento as mentes retrógradas da cidade perceberam que a implantação da maçonaria no Aracati era pra valer! Imagine uma cidade tradicional como Aracati - alimentada intelectualmente por crenças religiosas - e de repente ter que conviver com maçons no mesmo espaço?
Dois movimentos que arrepiavam os cabelos dos religiosos católicos eram o comunismo e a maçonaria. O confronto começou a partir de uma poesia do padre Correia de Almeida com o título A Hora Final em setembro de 1927; criticava os católicos que porventura viessem participar da maçonaria. Em novembro de 1927 José Barbosa Lima publica outro boletim contra a maçonaria com o título: Ao Público Aracatiense. O boletim defendia a reputação do fervoroso católico Antonio Felismino Filho, proprietário do jornal periódico católico O Rosário.
A concretização da loja maçônica no Aracati se realiza no domingo, dia 27 de janeiro de 1929, publicado no jornal A Região, fundado aos 03 de fevereiro de 1929. Para o evento veio uma delegação de maçons da Capital cearense: Dr. Álvaro Fernandes, Josias Moura, Antonio Pacheco, Augusto Carlos, Fenelon Ribeiro, Tenente Osimo de Alencar, Dr. Alcides Valente, Américo Justa, Joaquim Cafumba, Dr. Epifânio Leite, Job Roiz, Luis França de Oliveira Lima, Henrique Hellery, Paulino Siqueira Campos, advogado Francisco Queiroz, Francisco Gonzaga, José Alencar Araújo e Francisco Falcão. Maçons aracatienses que participaram do evento: Bruno Porto da Silva Figueiredo (comerciante), Teófilo Pinto (funcionário público), Antonio Leôncio (vereador), Aluísio Porto (comerciante),Joaquim Porto Caminha (funcionário público),Júlio Caminha Freire(funcionário do lorde),Clóvis Malveira ( comerciante), Alexandre Ferreira Costa Lima (funcionário público),Francisco Sales Gurgel ( comerciante), Eliezer Cavalcante ( funcionário da fábrica Santa Tereza), e Garcez de Castro (funcionário da Casa Costa Lima).
Não consta no livro do autor Antero Pereira filho a atuação da maçonaria de Aracati em algum evento político de envergadura. Crê-se que ficou mais no campo da filantropia, ajudando os pobres com distribuição de esmolas - prática condenada pela igreja local que via nessa ação oportunismo da maçonaria. No dia 30 de junho de 1930 a maçonaria lança seu jornal: A Liberdade, tendo como redatores os maçons Bruno Porto da Silva Figueiredo (Major Bruno), Eliezer Cavalcante e o expoente maior da maçonaria de Aracati, Clóvis Malveira.
Vale registrar nesse artigo que o maçom Clóvis Malveira deu asilo político ao Dr. Mozart Catunda, ex-secretário de polícia do Estado do Ceará, deposto do cargo pela Revolução de 30. No dia 24 de janeiro de 1932, domingo, a loja maçônica Fraternidade de Aracati realiza uma solene sessão em comemoração ao 3º aniversário da sua fundação. A loja maçônica vai se consolidar, embora temporariamente, no dia 19 de fevereiro de 1933 com sede própria na Rua Conselheira Liberato Barroso, 132. Nesse evento não se tem muitas informações, parece que a solenidade se restringiu aos membros da maçonaria.
No ano de 1935 a conjuntura política de Aracati passará por profundas mudanças. Outras forças políticas vão interagir no Aracati, no caso a LEC – Liga Eleitoral Católica, que vai atrair para sua militância muitos aracatienses fervorosos. Outro movimento de abrangência nacional e que teve atuação firme em Aracati foi o movimento integralista, fundado por Plínio Salgado sedimentado nas ideias do fascismo italiano. Teve no Aracati uma atuação muito viva com seus desfiles, símbolos e ideias nacionalistas. Carece de um estudo aprofundado esse movimento integralista em Aracati, vez que, sem sombra de dúvida, foi o movimento que mais arregimentou pessoas para suas fileiras.
Dessa forma, aos poucos a maçonaria definhava diante dos novos movimentos políticos e religiosos de Aracati. Em 28 de 1935 a maçonaria fazia sua última reunião. O último embate de maçons e católicos se deu em julho de 1937. O Dr. Eduardo Dias contestava um membro da maçonaria num escrito com o título em latim: Veritas super omnia, o pensamento deveria ter sido escrito assim: Veritas est super omnia amanda et sequenda. Acredita-se que expressaria melhor a opinião do Dr. Eduardo Dias. Traduzindo para o português – “A verdade deve ser amada e seguida acima de tudo”.
O golpe que quebrou as pernas da maçonaria e deixou-a agonizando aconteceu a partir de um boato conforme o qual o governo federal proibia o funcionamento das lojas maçônicas em todo o território nacional, como atesta uma reportagem do jornal O Povo de 22 de outubro de 1937. A verdade chegou tarde: a maçonaria em Aracati padecia... O golpe de misericórdia foi dado pelo padre Abdon Valério que estrategicamente convocou as figuras ilustres e maçons para um retiro espiritual; ao cabo, todos os cidadãos que participaram do ato abnegaram a maçonaria e queimaram os livros maçons - como atesta o historiador Antero Pereira no seu livro A maçonaria em Aracati:
“Ao final de uma solene missa realizada na elitizada igreja do Bomfim, o padre Valério preparou uma cerimônia para que os maçons arrependidos abjurassem da ordem maçônica que haviam pertencido, e voltassem ao convívio da igreja católica, queimando livros dos rituais maçons numa liturgia parecida com aquelas realizadas na idade média”. Ficavam, pois, para trás os ideais maçônicos sonhados por idealistas que desejavam um Aracati liberto, fraterno e igualitário.